terça-feira, 20 de janeiro de 2015

Mitos e lendas - O boieiro e a tecedeira... lenda chinesa

Segundo uma lenda, o Imperador Celestial tinha sete formosas e inteligentes filhas, das quais, a mais jovem era a mais bonita, a mais bondosa e a mais aplicada e cujo principal talento era ser uma eximia tecedeira. Chamavam-na, portanto, de "jovem tecedeira".
Dia após dia, ela encontrava-se permanentemente debruçada sobre o seu tear compondo brocados celestes de multicoloridos cambiantes. Graças ao seu constante zelo, diariamente, quer fosse madrugada ou crepúsculo, no céu podia-se ver brilhar os raios policromáticos dos seus brocados celestes. No verão e no outono, a jovem tecedeira compunha também no azul do céu, nuvens de diversas e magnificas configurações mágicas. Dia e noite ela não parava de tecer os mais diversos e floridos brocados celestiais, de acordo com os aspectos das diferentes estações e pode-se dizer, que se não fosse a persistência da dedicada tecedeira, o firmamento seria uma grande monotonia.


No entanto, devido a nunca sair da sua residência celestial a jovem tecedeira sentia-se invadida por uma estranha solidão. Certa vez, ao relancear o mundo dos seres humanos, ela sentiu-se atraída pela beleza da Terra e pela vida feliz que os homens levavam cultivando entre montanhas verdes e aguas azuis. Assim, um dia fatigada pelos seus trabalhos celestes, a tecedeira convidou as suas outras seis irmãs para a acompanharem a descer a Terra, onde se poderiam banhar na correnteza de um rio de límpidas águas.
Ora, perto do rio escolhido pelas jovens, morava um rapaz que vivia com seu irmão mais velho e a sua cunhada. Quando ele era ainda um imberbe os seus pais tinham adoecido e morrido, vindo ele, desde criança a, diligentemente, levar de sol a sol o seu boi a pastar nas encostas das montanhas sobranceiras ao rio. Todos os habitantes da sua aldeia apelidaram-no por isso de "boieiro". Aos 20 anos de idade ainda não se tinha casado, sendo o seu boi, o seu único companheiro, tanto das suas árduas jornadas como nos momentos de solidão e fadiga. O jovem e o boi eram inseparáveis e quando o rapaz estava deprimido, sussurrava as suas magoas aos ouvidos do boi, somente este podia, verdadeiramente, compreender os seus sentimentos, assim também só o boieiro era capaz de perceber o significado do mugir do boi. Em realidade, eles já eram companheiros íntimos de tão longa data, que não podiam viver um sem o outro.
Um dia, aconteceu que depois de lavrar uma porção da terra, o rapaz conduziu o boi a borda do rio para lhe matar a sede. O tempo estava soalheiro e as claras aguas do rio reflectiam as nuvens de mil cambiantes. Chegado às margens do rio, o boieiro deparou-se com umas graciosas jovens mergulhadas nas aguas, divertindo-se alegremente e chapinhando entre cristalinas gargalhadas. Todas elas eram muito formosas, mas o rapaz achou a mais jovem, a mais encantadora dentre todas, com o rosto de delicadas proporções, o seu permanente sorriso doce e cordial, os seus olhos brilhantes, claros e bondosos, e os seus cabelos sedosos e bem adornados com uma flor de lótus. O boieiro ficou imediatamente seduzido peta beleza da tecedeira e quedou-se absorto em românticos pensamentos. O boi percebendo o segredo que palpitava o coração do seu dono, disse-lhe:
- Ó rapaz! Vai depressa e recolhe a roupa dela que esta ao pé daquele salgueiro. Não te preocupes que ela virá ser a tua esposa.
O boieiro avançou alguns passos mas, envergonhado, parou e voltou-se com um ar hesitante.
- Que tonto! Vai lá; depressa; não hesites! Vocês serão um casal ideal!
Então, sem mais demora, o rapaz correu para o local onde a tecedeira deixara as suas vestes e, apanhando-as apressadamente, regressou imediatamente para o lado do boi. Mais tarde, ao perceberem que alguém tinha roubado as vestes da irmã mais jovem, as outras seis jovens vestiram o mais depressa que puderam as suas roupas e levantaram rapidamente voo para o Céu, abandonando ali a tecedeira. Esta, então, mergulhada na agua, não sabendo o que fazer e muito preocupada por ter sido desertada pelas suas irmãs pôs-se a chorar.
- Por favor, devolvam-me a minha roupa! - suplicou a tecedeira.
- Claro que vou devolver mas... queria pedir-lhe a sua mão... - respondeu-lhe o boieiro ao mesmo tempo em que saia a descoberto e olhava-a apaixonadamente.
Embora contristada pela acção desajeitada do rapaz, a tecedeira ficou extremamente comovida pela sinceridade das suas palavras e pelos seus ternos olhares. Ela era de fato uma fada mas, de há muito já tinha vindo a contrariar as restrições rigorosas elaboradas pelo Imperador Celestial que a coagiam a levar uma vida solitária e enfadonha no Céu, suspirando por poder partilhar da feliz existência das jovens da Terra. Assim, ao ouvir a proposta de casamento que lhe era feita, a jovem humildemente decidiu aceita-la acenando positivamente com a cabeça.
Desde então, o boieiro e a tecedeira tornaram-se um casal inseparável levando uma vida extremamente feliz e, enquanto ele lavrava os terrenos, ela tecia maravilhosos bordados. A tecedeira aproveitava também todas as possíveis ocasiões para ensinar a técnica de tecelagem celestial às suas mortais companheiras da aldeia e a muitas outras povoações vizinhas, vindo todas elas a tecer magníficos panos e brocados - progressivamente a técnica da tecelagem veio a ser divulgada por todo o mundo.
O tempo passou-se célere e alguns anos depois, o boieiro e a tecedeira tinham um filho e uma filha. Entretanto, o Imperador Celestial veio a saber que sem o seu consentimento a tecedeira tinha descido do Céu à Terra, ai se tendo estabelecido. Colérico, enviou-lhe vários mensageiros - coagindo-a a regressar ao Céu e acusando-a de ter violado as regras celestes. Diante da autoridade suprema do Imperador Celestial, a tecedeira não teve outro remédio senão aceitar uma separação com o marido e os filhos e, com o coração despedaçado, voltou para o Céu. No momento da sua partida, entre os gritos e choros dos filhos o boieiro  sem hesitar colocou ambas as crianças em duas cestas carregado-as numa pértica de bambu aos ombros e começou a correr em ddirecção ao Céu, em perseguição da tecedeira, e estava prestes a alcança-la, não fosse a mãe da tecedeira e mulher do Imperador Celestial ter intervindo, impedindo um reencontro entre a filha, o genro e os netos. Ao interpor a sua mão entre o jovem casal, com um gesto brusco, a mulher do Imperador Celestial criou um grande rio celeste (Via Láctea) de águas profundas e impetuosas ondas obrigando assim a tecedeira - em uma margem do caudalo - e o boieiro e os filhos - na outra - a levarem um existência para separados.
Constrangido por tal separação, o boieiro não mais se quis afastar da margem do rio celeste e a tecedeira desinteressou-se totalmente em continuar a tecer o brocado celeste. Perante tal dedicação mútua, o Imperador Celestial viu-se no dever de lhes dar suas faltas e permitindo-lhes um breve encontro anual. Reza a tradição que, desde então, no dia 7 de Julho, do calendário lunar de cada ano, todas as pegas misericordiosas constroem uma ponto provisória sobre o rio celeste fazendo com que o boieiro mais os seus filhos se encontrem temporariamente com a tecedeira. Por isso, segundo diz uma lenda, na madrugada deste dia cai sempre uma chuva miúda que são as lágrimas de despedida da tecedeira ao se apartar dos seus familiares, apertando a mão do marido e abraçando os filhos.
A ideia da tristeza da sua separação, antigamente comovia o povo e atraia uma simpatia profunda e, na noite de 7 de Julho do calendário lunar de cada ano, muitas pessoas costumam ficar sem dormir para melhor observarem as duas grandes estrelas brilhantes nos dois lados do rio celeste - o boieiro e a tecedeira - e esperando o encontro deste casal. De ambos os lados da estrela do boieiro ainda outras duas pequenas estrelas também se vêem brilhar no firmamento que, segundo se diz, são o seu filho e a sua filha. Estas duas pequenas estrelas, porque são extremamente brilhantes e tremulas, são consideradas como se fossem as duas ingénuas crianças piscando os seus olhos chorosos e esperando ansiosamente o feliz encontro com a sua mãe.
Em comemoração deste dia, os habitantes de certas regiões da China ainda continuam com um costume de oferecer, nos seus pátios, frutas e flores a tecedeira celeste testemunhando-lhe assim, reconhecimento pelo seu temporário regresso do Céu a Terra com o intuito de ensinar e propagar a técnica de tecelagem aos seres humanos e, simultaneamente, manifestando-lhe um sincero desejo de que nunca se esqueça da Terra, continuando a dotar as jovens de todos os tempos com um par de mãos hábeis para o desempenho de tal arte. A este costume chama-se o "Pedido ao Céu das Habilidades".
Além destes costumes, havia também muitas moças traquinas que, escondendo-se sob as parreiras, esperavam ansiosa e silenciosamente piscando os seus olhos, o encontro deste casal sempre separado, pois, segundo remotas lendas, no silencio da alta noite do dia 7 de julho, podiam-se ouvir os murmúrios amorosos do casal no seu único encontro anual.

in:http://www.mitologia.templodeapolo.net/mitos_ver.asp?Cod_mito=150&value=O%20boieiro%20e%20a%20tecedeira&mit =Mitologia%20Chinesa&prot=Yu%20Huang%20Shang%20Di&lnd=

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